por Regina Evaristo - Advogada Autista
Caminhamos pela vida, muitas vezes, como quem atravessa um deserto. Os ventos sopram ferozes, as tempestades de areia cegam nossos olhos, e, a cada passo, o peso do caminho parece querer nos dobrar. Resistir, nesse contexto, não é apenas uma escolha; é uma condição essencial para a sobrevivência. A resistência é o fio invisível que nos mantém de pé, mesmo quando tudo ao redor tenta nos arrastar para o chão.
Na vida moderna, onde a velocidade e a pressão são constantes, a resistência assume uma nova dimensão. Ela não é mais somente a força física ou a obstinação mental. É, sobretudo, a coragem de manter a alma intacta, de preservar a essência do que somos, mesmo quando o mundo insiste em nos moldar de outra forma. A resistência é a voz interna que nos sussurra: “continue”, mesmo quando o ruído externo nos diz para desistir.
Mas resistência, por si só, não basta. Ela precisa ser acompanhada de perseverança. E o que é a perseverança, senão a insistência em seguir, em avançar, mesmo que o caminho seja escuro e o fim esteja oculto? Perseverar é ter a ousadia de acreditar que há um propósito, mesmo quando este nos escapa à compreensão. É confiar que, em algum lugar, além das montanhas de dificuldades, há uma luz que justifica cada passo dado.
A vida de Jó, personagem de uma antiga narrativa, é o exemplo supremo dessa combinação de resistência e perseverança. Um homem que, diante das maiores provações, não apenas resistiu ao impacto dos golpes da vida, mas também perseverou na fé e na esperança, mesmo quando tudo parecia perdido. Ele nos ensina que a verdadeira resistência não é a de um corpo inabalável, mas a de um espírito que se recusa a ser derrotado.
Assim, ao olharmos para nossa própria jornada, podemos encontrar em Jó um reflexo de nossas lutas e, quem sabe, também uma inspiração para seguir em frente. Afinal, resistir é necessário, mas perseverar é o que nos leva adiante.
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